jueves, 18 de enero de 2007

Big Pimpin’, mas em França

Lucky Boy é um bocadinho Miami Vice: tem o seu quê de piroso. E pode muito bem ouvir-se com uma camisa de flores havaianas vestida…

Dj Mehdi só começou a ser um fiel estudante da música de dança francesa em meados do ano 2000. É contudo, um dos bons alunos dos Daft Punk.

Nascido no ano punk por excelência (1977), deu os primeiros passos no Rap (a fazer misturas com os discos que já tinha na sua colecção), e acabou por se consolidar na música de dança.

Depois de um largo caminho em afro sonoridades, tratou de montar o seu próprio negócio – a editora Espionage. Em 2002, lança "Espion", o primeiro álbum a solo, e em 2005 repete a faena, desta feita com Des Fraises Pour Ta Bouche, no qual contou com a participação do realizador francês Romain Gavras.

Embora já seja uma chatice dizer que alguém estudou a lição da dupla franco portuguesa dos capacetes espaciais, a verdade é que Mehdi se sai airosamente de algumas situações mais rapeiras devido aos ensinamentos dos mestres. É claro que, se o DJ Mehdi é francês, se foi teenager entre 1996 e 2006, e frequentava os clubs da cena parisiense, foi obrigatoriamente influenciado pelos ditos cujos… E afastem-se os pensamentos redutores acerca da comparação: quem tem vindo a aprender alguma coisa desd’os tempos do Homework, está no bom caminho.

DJ Mehdi utiliza aquilo a que acostumou os ouvidos: vocoders, vozes mais ou menos soul, e o som bem comprimido para ter o Pumpin' sempre presente. Também é muito bom ver como a descoberta do funk favela, quer seja sob a forma de M.I.A. ou do MC Serginho, deu a volta aos complexos mais pirosos dos compositores modernos – é evidente, ainda que muito subtil, o uso de samples e MC’s, pianinhos à Robert Miles e uns toques eurodance.

Estamos perante um caso de excepção: em "Busy Being Born", o monhé dá largas aos recursos e apresenta um disco bastante variado mas ao mesmo tempo homogéneo, que não incomoda os mais conservadores relativamente à música de dança ou ao Hip-Hop: há faixas claramente Bronx, outras claramente Big Willie Style (sim, o disco que Will Smith lançou em 1997 e que agora, por artes mágicas, tem vindo a aparecer por aí, nomeadamente sob a forma de Miami), e ainda umas claramente Daft Punk.

Porém, se tudo for feito com a classe exigida para entrar no Rex Club de Paris, a coisa dá-se.

É um disco para ouvir várias vezes e levar no leitor de mp3, porque em cada uma das faixas há elementos novos para descobrir a cada audição. E não encoraja saltar para a linha do metro, antes dá vontade de ser o Fred Astaire.


Joana Barrios

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